8.9.07

12


Fiel ao seu estilo intenso e caloroso, Mikhalkov revisita em 12, o clássico de Sidney Lumet, DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA (1957). "Na verdade, o filme de Lumet, que admiro muito, funciona apenas como ponto de partida; é um remake a 13%", brinca o diretor russo.

E, de fato, permanece a situação original, um grupo de jurados reunido para decidir a sorte de um réu que parece ter tudo contra ele. Em 12, esses senhores, presididos pelo jurado vivido pelo próprio Mikhalkov, fecham-se na quadra de esportes de um ginásio. Tudo parece que vai ser resolvido rapidamente, pois as provas de que o adolescente checheno de fato matou seu padrasto por dinheiro são devastadoras. Está claro até demais, pelo menos até que um dos jurados, o único que não vota pela condenação, começa a falar. Ele conta uma história de si mesmo. A história de como um dia, no ponto mais baixo de sua vida, uma pessoa o escutou de maneira menos superficial e o compreendeu.

Em sua visão de humanista, Mikhalkov cita Dostoievski: “Ele afirmava que amar a humanidade é fácil, pois se trata de uma abstração; difícil é amar uma determinada pessoa entre outras.” Por isso, continua o diretor, seria um erro fazer de 12 um filme político, embora contenha alusão à guerra da Chechênia, uma permanente chaga na política externa do país. A idéia central seria naquilo que hoje existe de mais deficitário no mundo - a compaixão humana.

E, nesse sentido, 12 é bem-sucedido. Consegue provocar no público forte empatia em relação a um personagem. O centro do filme nem é o garoto checheno, mas a reação daqueles homens que se vêem na contingência de julgar uma pessoa, e assim entram em confronto consigo mesmos. E também com a própria história do seu país. Sim, porque de maneira indireta, pelas frestas das falas dos jurados, passam não apenas as contingências da vida pessoal de cada um, mas como elas são moduladas pela história de um país que sai de décadas de regime comunista para entrar numa economia selvagem de mercado.

12 é, assumidamente, um filme discursivo, centrado em elenco de magníficos atores (cada um tem direito ao seu solo) e com poucas imagens do mundo externo. Estas aparecem na forma de flash-backs, que tentam mostrar como foi a infância e adolescência daquele garoto que está sendo julgado com tanta pressa. É também um filme que se dá o tempo da emoção e da reflexão. Tempo - essa matéria-prima também em falta no mundo todo. “Nossos contatos com os outros estão se tornando mecânicos, não conversamos com as pessoas, não as olhamos nos olhos”, diz Mikhalkov. “Minha intenção foi apenas essa: ver como reagem 12 pessoas comuns quando devem, num espaço fechado, decidir o destino de outra que eles nem conhecem.” Discutindo, os jurados de Mikhalkov vão descobrindo que nem sabem quem é aquele rapaz; o que supõem saber sobre ele baseia-se em preconceitos e idéias banais. Desfazer esses estereótipos, ou pelo menos atenuá-los, é tarefa civilizatória. Pelo menos para quem ainda acredita que isso tenha algum valor.

Spoiler Rating: 92
LBC Rating: ~

Por Luiz Zanin Oricchio

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