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Seria a obra uma homenagem à sua mãe, que soltou a voz no musical de 1964, OS GUARDAS-CHUVAS DO AMOR de Jacques Demy? "Não, quando trabalho não penso mais em fazer referência a meus familiares", respondeu uma defensiva Chiara. "Mas amo muito a referência que Christophe fez ao filme de Demy."
Christophe Honoré pode não ser conhecido do público brasileiro, mas é queridinho da Cahiers du Cinéma, que estampou na capa (e dedicou páginas e páginas) a seu filme anterior, justamente intitulado DANS PARIS, com Louis Garrel e Romain Durys.
Garrel volta, agora, e cantando. Honoré diz que OS GUARDAS-CHUVAS DO AMOR, o filme (en)cantado de Jacques Démy, marcou sua infância e juventude. Uma seqüência musical em DANS PARIS estimulou-o a fazer este filme cantado e que se divide em três movimentos, A Partida, A Ausência e O Recomeço.
No primeiro bloco, Garrel vive a fantasia masculina das duas mulheres na mesma cama, mas Ludivine Sagnier morre de repente, do coração, e ele entra em crise. No segundo bloco, entra em cena um garoto gay que, à força de insistência, termina por substituir as duas mulheres na cama do herói. Christophe Honoré pode ter feito o primeiro musical realmente gay da história do cinema (a maioria disfarça). Ele acha a definição reducionista. Diz que seu filme trata de personagens, sejam homo, hetero ou bissexuais, que têm dificuldade para expressar seus sentimentos. Fazem-no por meio das canções de amor.
Honoré repete algumas idéias de Démy. Lembram-se de Catherine Deneuve e Nino Castelnuovo cantando Je Vous Attendrai Toujours? Eles pareciam flutuar, filmados, em travelling, sobre trilhos em movimento. Aqui, a dúvida que fica é se o diretor, ao usar o recurso, usa trilhos ou o movimento de lentes? Ele diz que usa as duas coisas. Honoré diz que sempre quis trabalhar com Chiara Mastroianni por causa de sua voz. Pode estar sendo sincero, mas é no mínimo curioso ver a filha de Catherine Deneuve cantar o amor num novo musical à francesa.
Christophe Honoré alcança um efeito estranho para um musical, em que a espontaneidade e a surpresa substituem o artificialismo e a previsibilidade tradicionalmente ligados ao gênero. Essa sensação talvez venha da própria concepção do filme: quase todas as músicas (ao todo, são 13 canções de Alex Beaupain) vieram antes de tudo -personagens e a história foram criados a partir delas. O filme transparece um sentimento de urgência que fez parte de seu próprio modo de produção. A trama dá reviravoltas inesperadas e aparentemente "inadequadas" a um musical; os personagens tomam decisões abruptas, à primeira vista incoerentes. Não há um "roteiro" bem amarrado no sentido (r)estrito do termo.
Não por acaso, referências a Truffaut (BEIJOS ROUBADOS) e Godard (UMA MULHER É UMA MULHER, sobretudo) pipocam aqui e ali. CANÇÕES DE AMOR é um musical com espírito de nouvelle vague.
Spoiler Rating: 88
LBC Rating: ~
Por Luis Carlos Merten (Estadão), Pedro Butcher (Folha) & Agência ANSA
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