Embora a guerra no Iraque tenha sido um dos temas dominantes no festival, outra guerra, a que é travada diariamente pelos imigrantes ilegais na Inglaterra, mexeu com o público em Veneza.
Para denunciar o fenômeno, o célebre cineasta "vermelho" inglês Ken Loach, fiel a sua história e a sua cinematografia marcada pela denúncia política e social, aborda um tema incômodo, como o da exploração do trabalho ilegal dos imigrantes provenientes do Leste Europeu, Iraque, Brasil, entre outros países.
Em IT´S A FREE WORLD, Loach prefere narrar o fenômeno do ponto de vista do explorador. Nesse caso, trata-se de uma jovem inglesa, Angie (Kierson Wareing), bela e sem escrúpulos, que cria uma agência para selecionar pessoal. A hábil Angie recruta mão-de-obra do Leste, iraquianos, poloneses e romenos, todos sem documentação, ao mesmo tempo em que sonha com uma vida confortável com seu filho pequeno.
Quando terminou a primeira sessão mundial, alguém disse: "Ele sempre faz o mesmo filme". Conversa. A preocupação social é a mesma. Os filmes são diferentes.
O estilo é simples, extraindo interpretações intensas. E, quando os europeus, com sua auto-suficiência, culpam os imigrantes ilegais por tudo de ruim que acontece, Loach, um humanista de esquerda, repõe as coisas em seus lugares e mostra a parte que cabe aos países desenvolvidos por esse estado de coisas.
No caso, a personagem principal, explorada, passa a explorar os outros, mais fracos do que ela, afinal "tem filho para criar e precisa sobreviver". É assim: os peixes maiores comem os menores e os pouquinho mais fortes devoram os outros para não serem devorados pelos de cima. Lógica do admirável mundo contemporâneo
Spoiler Rating: 88
LBC Rating: ~
Por Luiz Zanin Oricchio (Estado) e Agência AFP
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