13.8.07

Amigos para Sempre

Considerando que O CÃO E A RAPOSA é pouco lembrado entre os clássicos de animação Disney, pode ser fácil esquecer que o filme foi um marco importante na história do estúdio. Lançado em 1981, a produção teve um caminho difícil até as telas: não apenas a moral dos estúdios Disney estava em baixa, mas também os animadores veteranos que criaram clássicos como PINÓQUIO e FANTASIA estavam todos se aposentando. Além disso, um grupo de artistas (liderados por Don Bluth, que mais tarde viria a dirigir filmes como ANASTÁSIA e EM BUSCA DO VALE ENCANTADO) se desgarrou do estúdio durante a produção do filme, insatisfeitos com os rumos que o estúdio havia tomado desde a morte de Walt Disney. Apesar das dificuldades, O CÃO E A RAPOSA foi lançado e teve uma decente bilheteria, sendo o primeiro filme produzido quase completamente pelo novo time de animação. Lendo os créditos do animado podemos ver alguns dos nomes que mais tarde se tornariam tão importantes quanto os dos Nine Old Men, entre eles John Musker, Ron Clements, Glen Keane, Don Hahn, Mark Dindal, Chris Buck e vários outros.

No prólogo do filme, uma mãe raposa foge de um caçador pela floresta carregando consigo seu filho recém nascido. Para protegê-lo, ela o abandona rente à cerca de uma casa e foge, sendo morta no processo. O filhote é aparado por Mamãe Coruja que, junto com dois amigos, Dinky, um canário, e Bruno, um pica-pau, armam um esquema para fazê-lo ser encontrado pela Viúva Tita, uma senhora que vive sozinha. Ela adota a raposa, que resolve chamar de Dodó. Na casa ao lado, Samuel Guerra, um caçador, traz para casa Toby, um filhote de cachorro, para o espanto de Chefe, o velho companheiro canino de Samuel. Algumas semanas se passam e Toby e Dodó se tornam amigos. Samuel Guerra obviamente desaprova, já que sua profissão é caçar raposas, e é isso que ele espera que Toby faça no futuro. Quando o final do verão chega, Samuel leva Toby e Chefe para uma temporada de caça no campo. Meses se passam e Dodó espera ansiosamente para rever seu amigo. Mas será que a amizade dos dois irá suportar as obvias adversidades da relação cão e raposa?

Apesar de não estar entre os filmes mais queridos do estúdio, O CÃO E A RAPOSA possui uma pequena legião de fãs entre os aficionados por Disney. Mesmo não sendo um deles, acho que o filme tem seus momentos, mas o resultado final como um todo é apenas regular. O principal problema do filme é o seu excesso de sacarina. Outros filmes Disney usam do fator “personagem bonitinho” para cativar a platéia, mas quase sempre é algo feito de forma moderada e mais natural. Aqui temos diversas cenas dos filhotes correndo felizes pela floresta e cenas do tipo “nós vamos ser amigos para sempre”.

Os pontos mais fortes de O CÃO E A RAPOSA são os momentos em que os diretores permitem que o filme entre em uma área mais matura do que a maioria dos animados Disney da época. O conflito entre os personagens principais é um bom tema que carrega um subtexto de preconceito e intolerância, e é mostrado de forma interessante, com momentos de tensão e drama. A melhor cena do filme, e certamente a mais famosa entre os fãs de animação, é a fantástica luta com o urso durante o clímax do filme. Animada por Glen Keane com uma grande força e presença que não é equiparada em nenhuma outra cena do filme, ela já nos dá uma boa prévia dos marcantes trabalhos que o animador viria a ter futuramente. Unida a uma ágil e eficaz edição, esse é o momento do filme em que realmente sentimos que esse novo grupo de artistas era capaz de fazer (e viria a fazer) grandes coisas.

Apesar da luta ser o ponto alto do filme, também há outras cenas que merecem ser lembradas: o prólogo com a fuga da mãe raposa pela floresta, mostrada de forma dramática apenas pelo uso de efeitos sonoros, belas imagens e tensa trilha musical (uma das únicas seções de destaques em uma trilha geralmente fraca e datada); a cena em que a Viúva Titã é obrigada a abandonar Dodó na floresta, que não falha ao trazer uma ou duas lágrimas a alguns espectadores; e as tensas cenas de perseguição na floresta.

O CÃO E A RAPOSA apresenta algumas das cenas mais sérias em um filme Disney desde A BELA ADORMECIDA, mas ainda é sabido que os artistas (ou os executivos) não tiveram coragem de ir aos extremos: Chefe originalmente deveria morrer após sua queda dos trilhos, mas a cena foi mudada para que ele apenas ficasse machucado. Não deixa de ser surpreendente que o próximo filme do estúdio seria o mais sombrio já produzido até então (e talvez até hoje): O CALDEIRÃO MÁGICO. O CÃO E A RAPOSA não é um filme ruim, mas em uma lista de quarenta e quatro longas animados, ele está mais próximo do final do que do topo. Ainda assim o filme foi um grande aprendizado para a nova geração de artistas Disney, e serviu para preparar o palco para as grandes coisas que estavam para vir.

Spoiler Rating: 69
LBC Rating: ~

Do Animatoons e Wikipédia

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