
Naturalmente, tais desprezos decorrem da personagem de Jennifer Hudson no filme de Bill Condon, versão do show da Broadway, originalmente escrita e composta por Henry Krieger e Tom Eyen. Effie é, no início, a líder do trio vocal de Detroit chamado "Dreamettes", e também a amante de Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx), um vendedor de carros que se tornou empresário do grupo. No entanto, é substituída, tanto em palco como por afeições de Curtis, por Deena Jones (Beyoncé Knowles), sendo relegada ao ostracismo e pobreza, enquanto seu grupo ascende ao estrelato pop.
"And I Am Telling You" é assim, um desafio lírico e bem orquestrado, um hino à impotencia, um protesto de uma mulher orgulhosa às margens da humilhação e derrota. Gostando disso ou não, Effie se foi...No entanto, não é frequente ir aos cinemas para ver uma imponente mulher negra, sexualmente assertiva e auto-confiante roubar a cena para si. E quando foi a última vez que você viu um atriz estreante ser a favorita ao OSCAR e uma estrela POP? Jennifer Hudson não está indo para qualquer lugar...Chegou!
O veículo que a entrega, entretanto, não funciona sempre. "Dreamgirls" é um dramalhão, réplica de edição de colecionador de um modelo que Detroit - digo Hollywood - emprega com facilidade e regularidade. No momento em que, e talvez somente por um momento, nos palcos musicais exaltam saúde, com revivals contínuos e novos shows que lotam os teatros da Broadway. Nos multiplex, entretanto, é uma história mais amarga.
As tentativas periódicas de revigorar a formula têm uma maneira de embalsamar a nostalgia ou de perfuma-la com um ritmo frenético (Ou ambos, veja "Moulin Rouge"). O público que vai assistir "Dreamgirls" terá uma bom entretenimento, mas estarão indo por causa dos velhos tempos da Era de Ouro dos músicais.
E se "Dreamgirls" é decepcionante, não é por falta de esforço de Bill Condon ou seu elenco, que fazem de tudo para combinar sua performance em palco repleta de gestos grandiosos e caricatos com uma ação natural de interpretar. Como em outros filmes de Condon ("Deuses & Monstros", "Kinsey" e "Chicago"), "Dreamgirls" ocorre na intersecção da fama e a vontade, aonde o desejo sexual se mistura com a fome para o reconhecimento público.
Ninguém no filme expressa essa tensão melhor que Eddie Murphy, cujo personagem, um cantor chamado James (Thunder) Early, luta constantemente contra seu próprio ego. Recorrendo freqüentemente numa edição rápida, Bill Condon sustenta a narrativa e o fluxo emocional desse conflito na canção seguinte.
Mas o problema de "Dreamgirls" - e não é pequeno - reside nas suas canções, que não são musicalmente chatas, mas idiomaticamente desastrosas. Isso é um musical, e apesar de tudo, sobre música, sobre uma tensão especial, vibrante e inconstante do ritmo e do "Blues" que se proclama, prepotente mas não impreciso, "o novo som da América".
A música tem o efeito de comprometer uma das ambições cruciais do filme: Retratar a história recente da América Negra (e, por implicação, dos próprios EUA) através do prisma da cultura popular. Um dos sonhos de Curtis é encontrar um processo que redefina permanentemente a "obra-prima", e você ouvirá muitos diálogos sobre que tipo da música apelará aos ouvidos negros e brancos. Você vê também imagens de arquivo (Martin Luther King) e vários registos da década de 60. Mas a música não fornece nenhuma orientação com a cronologia em si, e enquanto tenta negociar um período de mudança profunda, confia nos talentos de seus figurinistas John Myhre e Sharen Davis essa tarefa. As décadas são marcadas pela progressão dos penteados, lapelas, jóias e vestidos; como uma longa e entediante visita através de um museu.
O desempenho de Beyoncé Knowles vai da estática ao destacado. Em seu limitado trabalho em filmes, nunca pareceu confortável em interpretar, mas quando canta, é capaz do calor, vulnerabilidade, e mesmo ferocidade, em que demonstra em "listen". Nesse momento, é díficil obedecer o imperativo do título da canção: O filme ofereceu mais do que apenas escutar...
Spoiler Rating: 93
LBC Rating: 54
Por A.O Scott - NY Times
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