13.7.07

O lado negro do aranha

Esta é uma história sobre um sujeito bem-intencionado, com superpoderes, mas, que, em determinado momento, deixa a raiva e um sentimento de vingança lhe corromperem o caráter. Ele vai para o lado negro.... da Força? Quase. Não se trata da saga de Darth Vader nem de um episódio de "Star Wars".

Esta é a história de outra franquia milionária, a mais bem-sucedida da atualidade, "Homem-Aranha", que chega ao seu terceiro episódio, em pré-estréia hoje. Amanhã, o filme chega ao Brasil com 690 cópias, em 840 salas, 41% de um total de 2.045 salas no país, o que o torna um dos maiores lançamentos da história.

Neste episódio, Peter Parker (Tobey Maguire), o jovem estudante e fotógrafo pé-rapado que combate o crime em Nova York sob o disfarce de Homem-Aranha, deixa as cores azul e vermelho de seu uniforme para ficar literalmente "dark".

No início do filme, Peter tem o mundo aos seus pés. Nova York finalmente reconhece o valor do herói, enquanto ele está prestes a pedir Mary Jane (Kirsten Dunst) em casamento. A vaidade e a soberba do jovem tímido começam a despontar.

Depois, Peter conhece a verdadeira identidade do assassino de seu tio Ben, morto no primeiro filme da série. Surge o desejo de vingança. Está feita a tônica deste terceiro episódio. Ele não é mais um super-herói com o caráter acima de qualquer suspeita.

"Sam [Raimi, diretor] e eu nos divertimos muito desenvolvendo o lado negro de Peter Parker, mas foi difícil achar o tom certo", diz Tobey Maguire. "Obviamente, tivemos que fazer o filme para a maior audiência possível, então não dava para fazer algo muito pesado, sombrio ou perverso."

Pensando num equilíbrio, a trama abre espaço para momentos cômicos e musicais. Na história, que comporta várias subtramas, uma criatura alienígena chega à Terra. É um parasita do mal em busca de hospedeiros. Peter, em fase de caráter duvidoso, é seduzido pela criatura. Em cena cômica, Peter imita John Travolta em "Os Embalos de Sábado à Noite".

"Queríamos algo emocionalmente forte para refletir os conflitos pelos quais ele passa. Mas era necessário também diversão. Apesar de ele se tornar sombrio, foi preciso manter algumas características engraçadas para não perder o público", conta Maguire. "Nessa cena em que Peter dança na rua, ele continua ingênuo e nerd, apesar de achar que se tornou supercool. Mas foi difícil. Eu não sou um ator cômico."

No filme, além do lado desconhecido de sua personalidade, Peter enfrenta mais três oponentes de moral também ambígua. Ou seja, em "Homem-Aranha 3", os vilões não são totalmente malvados. O primeiro a bater no herói é Harry (James Franco), que se torna o novo Duende Verde. Melhor amigo de Peter nos filmes anteriores, agora ele tem superpoderes e tenta matá-lo.

"A coisa mais interessante no filme é ver o Homem-Aranha indo para esse lado. Isso o torna mais humano", diz Franco. "Fizemos cenas mais sujas, perversas, e isso foi divertido." O segundo na fila a bater no Homem-Aranha é Flint Marko (Thomas Haden Church), ladrão que, após um acidente radioativo, se torna o Homem de Areia. Mas ele tem fins nobres.

O terceiro na fila é Eddie Brock (Topher Grace), uma espécie de versão malandra e carreirista de Peter. E ele também é possuído pela criatura alienígena e se torna o vilão Venom, uma espécie de Homem-Aranha mais poderoso.

"Claro que eu acho toda essa história muito parecida com "Star Wars" e a coisa do "lado negro da Força". É por isso que eu amo "O Império Contra-Ataca" [episódio de "SW']. No primeiro "Homem-Aranha", tudo era muito preto ou branco, bom ou mau", acredita Grace. "Neste novo, a linha é muito tênue."
Sam Raimi, o diretor, diz que o que lhe atrai não são efeitos especiais nem seres superpoderosos: "O que me interessa é contar a história da jornada de um jovem e sua evolução como ser humano. Algo que é comum para todos nós".

Sem inimigos à altura, herói tem vaidade bem explorada em filme

Como os bons jogadores de futebol, também os super-heróis precisam saber parar na hora certa. Esse é o dilema que se apresenta para o Homem-Aranha: aposentar-se agora, no auge e com dignidade, ou continuar e tornar-se um caça-níquel -destino que vitimou, por exemplo, o Batman.

Se essa questão surge de forma escancarada, é porque já está inscrita em "Homem-Aranha 3" e porque desde o início o herói abdica de algumas de suas principais características: a preservação da identidade (agora Mary Jane já sabe quem Peter Parker é) e a ausência de reconhecimento público.

Os roteiristas souberam trabalhar muito bem essas transformações. Neste episódio, o Homem-Aranha voa entre os edifícios aplaudido por todos e inchado de vaidade. Ao mesmo tempo, Peter Parker pensa em propor casamento a Mary Jane. Sua tia o alerta: casar é saber pôr a mulher em primeiro lugar.

No caso, a observação faz todo sentido: em crise narcisista, o Homem-Aranha se põe à frente da mulher sem se dar conta de que a sufoca. Está colocada a questão central do filme: desta vez, o grande inimigo do Homem-Aranha será o Homem-Aranha.

Seus outros adversários estão longe de representar o perigo que vimos nos episódios anteriores. O primeiro deles, o novo Duende Verde, é ninguém menos que seu amigão Harry. O segundo, Flint Marko, ou Homem-Areia, é antes de tudo um azarado, um sentimental apaixonado pela filhinha. O terceiro, Venom, apenas um ladrãozinho de fotos com mania de grandeza.

Se partirmos da premissa hitchcockiana de que quanto mais bem-sucedido o vilão mais bem-sucedido o filme, então o novo "Homem-Aranha" é o menos interessante da série: quem tem três inimigos num filme só não tem nenhum.

Mas, se lembrarmos de que o aspecto mais interessante do herói sempre foram seus conflitos interiores, este episódio ainda consegue dar uma virada significativa, ao promover o amadurecimento do herói.

Plasticamente, essa situação é desenvolvida a partir de uma substância que adere, inicialmente, à moto de Peter Parker.
Depois, apossa-se dele e lhe proporciona grande prazer. É assim que se manifestará seu "lado negro", do qual vaidade e individualismo não estão excluídos. O Homem-Aranha será vitimado, enfim, pela sociedade do espetáculo.

Essas transformações, ainda que salutares, apontam já para o crepúsculo do herói. Um homem, fosse ele o Homem-Aranha, que enfrenta a si mesmo e sobrevive a esse enfrentamento, está pronto para a aposentadoria, pois o pior já passou. Para prosseguir com a mesma força, daqui por diante, será preciso que os roteiristas dêem nó em pingo d'água. Mas em Hollywood dar nó em pingo d'água não é coisa impossível.

Spoiler Rating: 84
LBC Rating: 63


Por Bruno Yutaka Saito & Inácio Araújo (Folha de São Paulo)

Um comentário:

Unknown disse...

Sam Raimi e seu time de roteristas entregaram uma conclusão bem abaixo do nível dos outros filmes do aracnídeo. As personagens secundárias foram mal resolvidas, e o clímax pouco empolgou. Faltou um vilão como Duende Verde(do primeiro filme) ou como Dr. Octopus.

O que, talvez, tenha salvado o filme foi exatamente alguns atores do elenco, bem como Tobey Maguire como Homem-Aranha/Peter Parker, James Franco como Harry Osborn/Duende Verde e Thomas H. Church como Homem-Areia.
Ratting: 65.

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